Vlad.

Esta postagem não é uma biografia, não vou contar sobre sua origem, nem sobre sua ascensão ao poder, pretendo contar apenas curiosidades sobre esse personagem histórico que instigou e continua instigando o imaginário popular, sejam através de panfletos, contos, livros físicos e digitais, filmes, séries, graphic novels, músicas, podcasts, dentre tantos outros meios de comunicação existentes em nossos dias. Esta é apenas uma coletânea de fatos e curiosidades apuradas sobre:
Vlad III, da Valáquia, Vlad Tepes,
Vlad, o Empalador, Vlad “Draculea”
Vlad, o Dragão, ou Vlad, o Demônio.

Draculea, o Empalador.
Vlad III da Valáquia: Príncipe por três vezes de forma intermitente dessa província histórica da Romênia (da qual faz parte inclusive a região da Transilvânia, devendo vassalagem ao rei da Hungria), situada ao norte do Rio Danúbio, nos Balcãs. Viveu entre 1431 e 1476, de família nobre pertencente à Ordem do Dragão (Cavaleiros análogos aos Templários, que protegiam o Cristianismo) e envolvida diretamente na defesa e luta contra a expansão do Império Turco Otomano pela Europa.

Seu pai, Vlad II, detinha o apelido de “Drac” (Dragão) “ul” (artigo definitivo), de forma que Vlad se tornou “Dráculea”, onde “ulea” significa “filho de”. Drácula é a forma genitiva eslava de Drac, que, em romeno moderno significa “o diabo”. Daí sua reputação utilizada em qualquer sentido por seus inimigos…
Mas por quê Dragão ou Diabo era sua alcunha, quando as alcunhas de outros governantes da mesma época eram “o belo” “o breve” “o príncipe negro”, dentre outras tantas?


Vamos lá então: As alcunhas designavam o governante por características físicas, temporais, morais, dentre tantas outras, para diferenciá-los de outros que houvessem adotado ou adotassem posteriormente o mesmo nome. E Vlad III era famoso (muito mesmo!) pelo fato de possuir uma “propensão” em punir suas vítimas, espetando-as em estacas em locais públicos para exibição. Segundo alguns, a finalidade era causar terror aos inimigos ou transgressores da Lei e de seu código moral, demonstrando o destino que os aguardava. Atribui-se a ele algo em torno de 40 a 100 mil mortes dessa forma.
Vlad, definitivamente tinha método:
- Havia estoques de estacas;
- Havia padrão geométrico para o empalamento (geralmente em círculos concêntricos);
- Aos mais importantes um lugar de destaque: quanto maior o ranking, maior a estaca usada;
- Os cadáveres em decomposição eram deixados no local por meses.

Maomé II, conquistador de Constantinopla, homem destemido, certa vez retornou a Constantinopla após haver se sentido mal por haver testemunhado 20 mil prisioneiros turcos empalados fora da cidade de Tirgoviste (como relatado em “A Floresta do Empalado”).

Mas… … … Não era esse o único método utilizado por ele. Ele se utilizava de pregos na cabeça, decepava membros, cegava suas vítimas, estrangulava, infligia queimaduras, cortava nariz e orelhas, mutilava órgãos sexuais (especialmente em mulheres), escalpelava, esfolava, expunha ao tempo, aos animais ou poderia queimar viva a vítima.
Qualquer um poderia atrair sua atenção: camponeses, mulheres, crianças, grandes figuras, comerciantes, embaixadores estrangeiros, porém os preferidos eram os comerciantes e boiardos (grandes proprietários de terra, muitos dos quais contribuíram para o assassinato de seu pai e irmão mais velho) da Valáquia.

A imagem de terror que o Ocidente lhe atribui, entretanto, não é compartilhada pelos romenos e pelos moldavos, os quais o têm como herói nacional, havendo construído em seus reinados diversos mosteiros. É lembrado por seu povo como um príncipe que os defendeu de invasões estrangeiras (húngaros e turcos otomanos). Lembrado também como herói dos homens comuns por haver vencido os opressores boiardos.

As únicas formas de evidência histórica sobre seus atos e atrocidades, vêm da tradição oral romena e, como a impressão ainda se encontrava em seus primórdios, vem também de panfletos produzidos por russos e alemães. Os panfletos eram forma de divulgação e diversão em massa e foram passados geração após outra, ao longo dos próximos 500 anos. Ao longo dos trinta anos seguintes à morte de Vlad, foram reimpressos várias vezes, tão populares eles eram. De qualquer forma, essas informações que chegam podem não ser confiáveis, em razão de poderem ter sido influenciadas por interesses políticos, preconceitos locais, dentre outros. Como dito, haviam panfletos publicados na Alemanha após a divulgação da morte de Vlad e panfletos publicados na Rússia, após os panfletos alemães.

Os produzidos na Alemanha eram totalmente desfavoráveis á Vlad e ora o retratavam como um monstro sádico e desumano que aterrorizava e massacrava inocentes (comerciantes alemães eram vitimas frequentes de sua crueldade), ora como um vassalo inútil (informação fomentada por Mathias Corvinnus, da Hungria visando reforçar sua reputação junto ao Sacro Império Romano).

Os produzidos na Rússia, no início da formação da base do que se tornariam os czares, estavam tendo problemas com os Boiardos. Vlad também foi apresentado como cruel. Porém ali, era tido como justo, e cujas ações pretendiam beneficiar seu povo.
Pela tradição oral, as lendas e contos de Vlad, o Empalador se mantiveram como parte do folclore entre os camponeses romenos e a ideia principal propagada era sobre a insistência de Vlad na honestidade para eliminar o crime e o comportamento imoral da região. Apesar disso, ainda é lembrado como governante cruel e caprichoso.
Seja qual for a visão real – se é que todas não são – a compreensão que pode ser tirada de sua história é que a capacidade de fortalecer seu governo era exclusivamente derivada da crueldade e brutalidade das punições dadas a seus inimigos.
Curiosidade:
Você sabia que os restos mortais de Vlad podem estar sepultados em uma igreja em Nápoles, Itália? É o que diz um grupo de pesquisadores da Universidade de Tallin, na Estônia.

Oh, mas em tempos de “especialistas” formados em facebook, Instagram, Whatsapp e congêneres, como provar a veracidade dessa hipótese? Bom, preferencialmente o túmulo deveria ser aberto e os restos mortais exumados e submetidos a diversas análises. Ocorre que o pedido já foi realizado, e encontra-se, por ora, paralisado diante da burocracia Italiana, que rivaliza e por vezes supera a nossa própria.
Enquanto a autorização não chega, cabe a revisão histórica de sua morte e da localização de seus restos mortais.
A maioria dos documentos existentes dão conta de sua captura e execução por decapitação pelo exército Otomano o qual levou sua cabeça para exposição em Constantinopla, deixando apenas o corpo na região da Romênia para ser enterrado em um mosteiro local. Sendo assim, como – vocês poderiam perguntar – surgiu em Nápoles uma sepultura que pode abrigar seus restos mortais?
Simples: Em primeiro lugar, Vlad tinha uma filha, de nome Maria, que havia sido levada à Corte Napolitana, cuja família governante era sua aliada e, onde foi adotada e se casou com um também nobre local. A partir daí, uma arqueóloga de nome Erika Stella, disse ter levantado evidências que Vlad não fora executado, e sim capturado pelos otomanos, sendo resgatado por sua filha Maria. Documentos mostram o pagamento de resgate de Vlad aos turcos, o qual foi levado a seguir à Nápoles, tendo, posteriormente ali falecido e sepultado na igreja Santa Maria La Nova, mesmo local de sepultamento de sua filha e genro.

Raffaello Glinni, estudioso de história medieval, colega de Erika, aponta um túmulo em especial no local, datado do século XVI, decorado com símbolos que teriam sido usados pelo nobre romeno. Símbolos que não condizem com uma sepultura de nobre italiana, como por exemplo, um da Casa de Cárpatos da Transilvânia; um Dragão e duas esfinges opostas, representando a cidade de Tebas (conhecida também por Tepes – e aqui surge uma dúvida insanada, tepes também, segundo alguns historiadores quer significar empalador, então, não se sabe até que ponto o estudioso quer “forçar” a primeira interpretação). Nesse sentido, o simbolismo se torna meio que óbvio e sugere o nome do usuário da tumba: Drácula (dragão) Tepes, dois cognomes de Vlad.
Será que quando a autorização para a abertura da sepultura for fornecida, os investigadores portarão estacas de madeira, alho, água benta, crucifixos para se precaver?
Historietas de Vlad:
Essa época foi época fértil para divulgação de histórias e fábulas. Os fabulistas mais famosos foram Esopo (o predecessor de todos os demais), La Fontaine e os Irmãos Grimm (que viveram em período posterior a Vlad). Agora, as histórias atribuídas a Vlad na tradição oral romena e nos panfletos alemães e russos, rivalizariam em argumentação e qualidade a qualquer um desses. Vamos a elas…
“O cálice de ouro”: Dada sua fama de empalador e sua insistência pela honestidade e ordem, raríssimos eram aqueles que praticavam a arte da “expropriação alheia”; Ele confiava tanto em seu sistema legal que colocou em exposição permanente em uma praça de Tirgoviste um cálice de ouro puro, que lá permaneceu sem jamais ser subtraído até sua morte.

“A mulher preguiçosa”: Vlad em suas andanças pelos campos da Valáquia, certa vez notou um camponês trabalhando e vestindo uma camisa muito curta em relação a seu corpo. Vlad parou e mandou chamar a esposa do trabalhador. Ali chegando, foi perguntada como passava seus dias, ao que respondeu: “lavando roupa, fazendo pão e costurando”. O príncipe indicou a camisa pequena do marido como prova de sua desonestidade e preguiça e ordenou seu empalhamento, sob os protestos do trabalhador que se dizia satisfeito com a esposa. Vlad ordenou a outra mulher que se casasse com o camponês e a advertiu a trabalhar duro, caso contrario sofreria o mesmo destino, da esposa condenada.
“Os embaixadores estrangeiros”: A história a seguir foi relatada de forma discrepante em panfletos russos e alemães, porém, ambos concordavam que: Em visita à corte de Vlad em Tirgoviste, dois embaixadores estrangeiros se recusaram a tirar seus chapéus em sua presença. Diante disso, Vlad ordenou seus chapéus fossem pregados em suas cabeças, para que não precisassem removê-los novamente (embora de violência extrema contra visitantes de outra potencia, a prática não era incomum à época, principalmente na corte russa e Europa Oriental).
“O fidalgo com olfato apurado”: Nos idos de 1459, para as festividades do dia de São Bartolomeu, o príncipe da Valáquia, que há pouco havia mandado empalar cerca de 30 mil comerciantes e nobres da cidade de Brasov, na região da Transilvânia, ordenou que fosse instalada uma mesa para sua refeição na “floresta” de corpos ali empalados, exigindo dos boiardos (seus desafetos desde sempre), que se juntassem a ele em celebração. Durante a refeição, Vlad percebeu um dos convivas tampando seu nariz para não aspirar o cheiro fétido de sangue coagulado e de dejetos humanos. O príncipe, divertido, ordenou que o nobre de olfato sensível fosse também empalado em uma estaca maior e colocado em destaque junto às outras para ficar acima do mau cheiro.
“A concubina de Vlad”: Vlad III teve uma amante na cidade de Tirgoviste, em uma das vielas da cidade. Ela o amava verdadeiramente e sempre estava disposta a agradá-lo, aliviando-o do peso de seu mau humor e depressão. Certa ocasião chegou deprimido, e ela, mentiu ao dizer estar grávida. Vlad a levou-a a exame pelas “matronas de banho”. Com a notícia da mentira, o próprio sacou de seu punhal, abrindo-a desde a virilha ao peito, deixando-a morrer em agonia.

“O Nobre Polonês”: Um polonês de estirpe nobre, Benedito de Boithor, a serviço do rei da Hungria, Corvinus, foi recebido na corte de Drácula, em Tirgoviste em setembro de 1458. Vlad ordenou fosse colocada em frente ao emissário real uma lança de ouro, perguntando se ele sabia o motivo do objeto haver sido colocado ali. Este, respondeu a Vlad que pensava haver um boiardo o ofendido e sua intenção era a de “honra-lo”. Vlad, de pronto, afirmou que a lança era uma homenagem ao nobre convidado. Por sua vez, altiva e honradamente, o polonês encarando o príncipe asseverou: “Se algo fiz para merecer a morte, que o príncipe fizesse o que achasse melhor”. Vlad em um misto de surpresa e satisfação cobriu o conviva de presentes, não sem antes lhe assegurar que fosse outra a resposta, haveria sido de pronto empalado.
“Os dois monges”: Essa história conta com divergências na narração russa e alemã e, até a narração alemã, tem versões distintas sobre ela, porém, quanto ao enredo básico todas concordam: Dois monges de terras distantes, em visita a Tirgoviste, visitaram Vlad em seu palácio. Visivelmente curioso (e isso por si só já era um perigo), Vlad mostrou-lhes fileiras de corpos empalados no pátio. Arguidos a respeito da visão, o primeiro, bajulador, respondeu: “Você foi designado por Deus para punir os malfeitores”; O outro teve coragem moral para condenar a crueldade do ato. A versão mais comum (porém não unânime) alemã Vlad recompensa o bajulador e empala o honesto. Na versão russa e na tradição oral romena, ocorre o inverso. O honesto foi recompensado por sua integridade enquanto o adulador foi empalado pela desonestidade.

“A queima dos doentes e pobres”: Vlad drácula sempre muito preocupado que todos seus súditos trabalhassem e contribuíssem para o bem comum notou que pobres, mendigos, aleijados e vagabundos eram cada vez maiores nas ruas de Tirgoviste e demais cidades da região da Valáquia. Matutou e matutou até que decidiu por convida-los para uma grande festa alegando que ninguém deveria ter fome em sua terra. Conforme iam chegando, eram conduzidos a um grande salão onde a festa magnifica estava preparada. Todos comeram e beberam até noite alta, quando Vlad surgiu e lhes perguntou: ”O que mais vocês desejam? Gostariam de viver sem preocupações, sem que nada neste mundo lhes faltasse?”. À resposta afirmativa e em uníssono, seguiu-se a ordem de Vlad para que o salão fosse fechado e incendiado, lugar do qual, ninguém escapou com vida. Posteriormente, Vlad fala aos boiardos: “Que nem eles, nem ninguém representem mais encargos aos outros homens e que ninguém seja pobre em meu reino”.
“O mercador estrangeiro”: Vindo de uma terra estrangeira, em viagem de negócios, um comerciante passa por Tirgoviste e, ciente da reputação do governante e de sua terra, deixa na rua sua carroça de transporte com todos seus bens durante a noite. Pela manhã ao retornar à carroça, ficou chocado com a ausência de 160 ducados de ouro, indo se queixar diretamente ao príncipe Vlad, que lhe garantiu a devolução do dinheiro, para, em seguida, emitir anuncio à cidade: “Encontrem o ladrão e devolvam o dinheiro, ou destruirei a cidade”. À noite ordenou que 160 ducados, mais um extra fossem retirados de seu tesouro e colocados na carroça do comerciante. De volta à seu veículo na manhã seguinte, viu o dinheiro, o contou e voltou a Vlad para informar a devolução e informar o ducado extra. Nesse tempo, o ladrão havia sido capturado e entregue à guarda real junto com o dinheiro subtraído. Só para variar, Vlad ordenou o empalhamento do meliante, informando ao viajante que acaso não tivesse sido relatado o ducado extra, haveria mais uma estaca ao lado do ladrão.


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