Tem dia para Caridade?

Relutei antes de publicar este post. O tema é fascinante e envolvente, mas acho que não terá alcance. Grande parte das pessoas hoje em dia não quer ler muito além do título ou ainda ter o trabalho de raciocinar sobre o tema proposto, principalmente quando ele levanta problemas de ordem moral ou religiosa, ou ambos. Para quem quer alimentar o cérebro de outras pessoas com curiosidades, apresentar ideias e proposições de raciocínio e envolvimento emocional pode ser um tanto quanto difícil, diria até perigoso. Tudo começou com a seleção de um tema para apresentação no site. Dentre várias possibilidades optei – até pela proximidade da data comemorativa (ontem, 19 de julho) – por tratar de um tema cada vez mais ausente na humanidade.

“Caridade não nasce na semântica, nem na etimologia, mas sim, do coração humano que se volta para amar o próximo”

O tema é oportuno uma vez que cada vez mais nos atentamos à proliferação da FALÊNCIA MORAL decorrente do excesso da cultura do individualismo (autopromoção visando aceitação), da egolatria, da cultura do ganhar (dinheiro, seguidores, fama, dentre outros), da falta de empatia, da falta de amor próprio e, por consequência ao próximo, que acarretam diversas “doenças sociais” como a Obesidade Mental, ensinada pelo professor Andrew Oitke e a Normose, definida por Jean Yves Leloup de em nossos dias.

Peço a vocês: Leiam com carinho, até o final. Há definições, lições e propostas interessantes em todo o texto, portanto, não desanimem.

Além de reunir informações em várias fontes externas, principalmente cristãs (cristianismo em geral e kardecismo, dentre outras da Cultura Ocidental), já que este é um dos preceitos morais básicos a todo o bom cristão, em alguns pontos externo minha opinião. Resumi o máximo que pude para não ser prolixo e para que o texto não perdesse o sentido ou fosse cansativo. O tema é muito bonito e eclético e – acredito – cada vez mais necessário atualmente. Então, como diziam os antigos: “_ Sem mais delongas”…

A Caridade:

Caridade tem dia?

É. Tem sim. No Brasil, o dia 19 de julho tornou-se oficialmente uma data comemorativa – o Dia da Caridade – através da edição da Lei nº 5.063, de 1966, por decreto do então presidente Humberto Castelo Branco, você sabia? Seja qual for a resposta, pergunto: o que há para se comemorar? Como diria o Gafanhoto Hopper no desenho clássico, Vida de Inseto: “Nesse mundo onde inseto come inseto, princesa, não tem Hakuna Matata que conserte”… Muito embora, particularmente tenho fé que esse “conserto” possa ocorrer.

 “Caridade é, sobretudo, amizade. Para o faminto:- é o prato de sopa. Para o triste: é a palavra consoladora. Para o mau: é a paciência com que nos compete auxiliá-lo. Para o desesperado: é o auxílio do coração. Para o ignorante: é o ensino despretensioso. Para o ingrato: é o esquecimento. Para o enfermo: é a visita pessoal. Para o estudante: é o concurso no aprendizado. Para a criança: é a proteção construtiva. Para o velho: é o braço irmão. Para o inimigo: é o silêncio. Para o amigo: é o estímulo. Para o transviado: é o entendimento. Para o orgulhoso: é a humildade. Para o colérico: é a calma. Para o preguiçoso: é o trabalho. Para o impulsivo: é a serenidade. Para o leviano: é a tolerância. Para o deserdado da Terra: é a expressão de carinho.”

Francisco Cândido Xavier

Caridade, uma das sete virtudes do Cristianismo e uma das três virtudes teologais.

Pode ser interpretada como “amar ao próximo como a si mesmo”. A partir desse excerto da máxima de Jesus, o Cristo “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, podemos compreender a caridade como uma via de mão dupla, porquanto para se amar ao próximo, há a necessidade de o indivíduo amar a si mesmo. Teólogos cristãos afirmam que quanto mais o indivíduo busca respostas sobre como amar a si mesmo, maior a possibilidade de ele vir a também amar ao seu próximo.

O radical da palavra de origem latina, “caritas”, deriva de “carus”, que por sua vez quer significar: de alto valor, querido, caro.

Entretanto, caridade não nasce na semântica, nem na etimologia, mas sim, do coração humano que se volta para amar o próximo sem fins de lucro ou como forma de acalmar a própria consciência perante o que nos rodeia. Significa o mesmo que Ágape (amor fraternal, desinteressado).

O compendio do catecismo da Igreja Católica afirma ser essa virtude, “o vínculo da perfeição (Cor. 13,14) e o fundamento das demais virtudes, que ela anima, inspira e ordena”

Bom, passando ao que interessa, o que eu realmente gostaria que fosse refletido intimamente por todos é a seguinte questão: “O que vem a ser realmente a caridade?”.

Cada um de nós possui uma interpretação bem pessoal quando ao seu significado, embora, de uma maneira geral achemos que seja praticar “boas ações” umas poucas vezes ao ano, como no natal, na páscoa, em campanhas para arrecadação de alimentos ou roupas. Poderia ser também dar esmola ao necessitado; Dar de comer a quem pede; Comprar uma rifa beneficente; Contribuir de forma mensal e mecânica para a manutenção de entidades filantrópicas de ajuda; Depositar um óbolo na igreja ou em uma bolsa de beneficência; Dar o que nos sobra aos carentes…

“Não é somente um sentimento, mas sim a capacidade de agir mediante a expressão profunda do desejo de exercer o bem ao próximo, porquanto TODO ser humano possui a fagulha divina que o anima”

Acrescento outras indagações: Qual a forma como isso é feito? O é de coração? Simplesmente serve para nos dar consciência tranquila do dever cumprido como cristãos? Ou para garantirmos a indulgencia que nos levará diretamente ao Paraíso ou ao Oriente Eterno? Com que frequência praticamos a caridade?

Esses atos acima podem até serem considerados atos caritativos, mas, de forma alguma exprimem a grandiosidade desta virtude que deveria ser praticada mais amiúde por todos nós. Assim da forma como acima demonstrado, será que conseguiremos atingir a “meta” de caridade esperada pelo Grande Arquiteto?

Por Deus! A caridade deve ser vivida diuturnamente, não praticada esporadicamente de acordo com a oportunidade ou a conveniência de cada um. A caridade não está em uma despensa, para ser pega, usada e devolvida. Ela tem de estar com você, em você, dentro do coração. Todas as pessoas devem ser olhadas com bons olhos, com amor, com compaixão.

A caridade não deve ser apenas material, essa é a mais fácil de ser praticada. O que devemos atentar é para a prática diária da caridade MORAL, aquela que materialmente nada custa, e não obstante é a mais difícil de ser posta em prática. Entre outras coisas, a caridade moral consiste também em saber calar quando outro mais tolo que nós não o faz; Em fazer-se de surdo quando palavra irônica escapa de boca habituada a caçoar; Em desconsiderar o sorriso desdenhoso que por vezes se recebe de pessoas que se consideram superiores às outras; O não se incomodar com as faltas alheias também é uma modalidade de caridade. Uma não deve impedir a prática da outra. As duas se necessitam e se complementam.

Dois preceitos que se encontram presentes em todas as religiões, em toda a moral, deveriam ser cantados como mantras diários em nossas vidas: “Amarmos uns aos outros” e “fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito”. Se assim nos policiássemos e agíssemos, não mais haveria ódio, ressentimentos, cobiça, inveja, guerras, enfim, os “pecados”, as “picuinhas diárias”, os vícios seriam encerrados em masmorras profundas.

Livro da Lei Sagrada:

Na Bíblia – O Livro Sagrado adotado pela maior parte do Ocidente – há uma passagem em que o apóstolo Paulo, em carta aos Corintos, exprime sucintamente e de forma maravilhosa o que vem a ser a verdadeira caridade: permitam-me a liberdade de substituir apenas a palavra amor, pela palavra caridade (caridade é talvez a manifestação suprema do amor). O texto não perde o sentido, pelo contrário, fica tão belo quanto o original. Vejamos:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.

A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece.

Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade”.

(Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13).

 

Reflitamos: “a maior destas é o amor” (ou caridade).

Agora, vamos nos permitir um pequeno exercício: Vamos analisar o texto, trecho a trecho e tentar obter o entendimento, a sublime sabedoria desses lindos versículos. Evidente que cada um terá seu próprio entendimento, o explicitado abaixo é a forma singela como consegui interpretar.

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.

Este trecho é um alerta: De que vale a beleza da palavra, se ela vier desacompanhada de atitudes. Essa atitude vem da mudança íntima, necessária a todos, do desbaste de nossa pedra bruta, da luta constante contra as imperfeições. Se não acontece essa mudança, ocorre o barulho do sino que tine, a atenção é despertada, mas a modificação necessária de corações e inteligências a que se direciona a palavra não ocorrerá.

“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.”

Alguém que tenha conhecimento espiritual e que tenha fé, não é necessariamente um indivíduo caridoso. Quanto mais sabemos, maior nossa responsabilidade perante a vida. Aquele que tem o conhecimento deve acima de tudo, buscar a humildade para servir ao seu semelhante. A fé, em si não é sinônimo de caridade, pois desacompanhada de obras. Por mais que tenhamos fé em um Princípio Supremo e ainda em nossas forças, se não praticarmos o que acreditamos, o que cremos, e dermos o bom exemplo, nada seremos.

“E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria”.

O ato de ajudar nosso semelhante materialmente, é importante, desde que essa ajuda seja totalmente desinteressada, devemos ser irmãos daqueles que socorremos, e devemos ter como objetivo o amparo e o alivio do sofrimento alheio. A intenção nesse ponto importa muito, se doamos, com intuito de aparecer aos outros, ou como forma de alivio, de nada vale, e corre o risco de ser ainda pior do que não houvéssemos ajudado, porquanto, ao não observarmos a intenção, nosso semelhante pode sentir-se humilhado. Nesse mesmo sentido, a autopunição, o auto castigo, é desnecessário, devemos sim sufocar nossas más tendências, aquilo que é verdadeiramente a causa de muitas de nossas vicissitudes.

“A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece”.

A caridade nos faz entender as dificuldades e os obstáculos da vida, que devem ser vencidos com resignação para que possamos progredir espiritualmente. A bondade passa a ser aplicada a todos, indistintamente, independentemente do momento, os sentimentos negativos dão lugar ao perdão que é fato de enobrecimento do ser humano. Além da resignação e do perdão, a prudência deve acompanhar ao buscador da caridade, de forma a afastar a leviandade e orgulho, que  nos afastam do Criador.

“Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade”.

A caridade busca decência e fraternidade, em um mundo onde se busca a autossatisfação. De que adianta levarmos vantagem em tudo, se nosso irmão sofre com isso. Essa dor tende a se tornar desespero, rancor e violência, que fatalmente, nos atingirá, aos nossos filhos, ou amigos. Quando nos irritamos, deixamos de ter razão, e em razão disso, paciência e sensatez, também integram a caridade. Quando pensamos antes de agir, a justiça faz presença, nos liberta das mentiras, intrigas e dos interesses pessoais. A verdade prevalece e nos libra da ignorância.

“Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Saber esperar é próprio da caridade. Quando vemos além da vida material, nosso horizonte se ilumina, o que nos mantém vivos e animados. O caminho do equilíbrio, que a caridade nos lega, nos faz buscar esclarecimentos na sabedoria, nos afastando do desespero.

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade” .

Perceberam o que a prática da real caridade pode nos proporcionar? Mudança íntima, humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação, bondade, perdão, prudência, decência, razão, tranquilidade, sabedoria, justiça, amor ao próximo como a si mesmo.

Paulo nos afirma, nessas poucas linhas, que a CARIDADE é um conjunto de atributos morais e intelectuais, que proporciona ao nosso Espírito ser dono de seu próprio destino.

A caridade-amor é uma dádiva de si mesmo, é o oposto de “usar”, é um sentimento ou ação altruísta, o ajudar sem esperar recompensa, é amar plenamente seu próximo, é ser benevolente, bondoso, compassivo. Não é somente um sentimento, mas sim a capacidade de agir mediante a expressão profunda do desejo de exercer o bem ao próximo, porquanto TODO ser humano possui a fagulha divina que o anima, e, se cremos e amamos verdadeiramente a Deus, devemos reverenciá-la em nosso semelhante, indo de encontro a ele, servindo-o e amando-o como ele é. Esta deve ser, unicamente a nossa recompensa, estar presente, como se pode, junto a quem é órfão de amor.

Tivemos alguns exemplos contemporâneos, de pessoas que viveram dessa forma: Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Chico Xavier todos hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, vivenciando a experiência amorosa proporcionada do interior, um amor que, por sua natureza, foi ser ulteriormente comunicado aos outros. O amor-caridade cresce através de si. Ele provém da fagulha Divina que nos anima e a Deus nos une, transformando o indivíduo, auxiliando a superar nossos preconceitos e divisões.

Esses verdadeiros avatares da humanidade nos legaram o precioso ensinamento: “quem ama o faz não apenas com palavras, mas com atitude e reverencia silenciosa”.

Ninguém espera que sejamos santos, nem o esperou o apóstolo Paulo, tampouco o Cristo. O ensinamento da caridade, assim como os demais ensinamentos cristãos (sem mencionar os ensinamentos virtuosos pregados em outras doutrinas religiosas) existem de forma a proporcionar ajuda para a auto superação. Creio que o que era e é esperado de nós enquanto seres religiosos, seja o esforço constante em nossa autoanálise moral, de forma que, sempre que nos percebamos fora dos atributos da caridade, possamos erguer nossa cabeça e recomeçar o caminho, sem ansiedade ou desespero, porém, a passos firmes e corajosos.

Se, como indivíduos que vivem e praticam a caridade, conseguirmos possibilitar meios para que a sociedade construa uma vida mais justa e saudável para si, sem que um ser humano não necessite viver da caridade do outro, poderemos descansar.

Acredito plenamente que seja isso que Deus – o Grande Arquiteto do Universo – espera de cada um de nós.

SERVIÇO DE CARIDADE – CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ

Auxiliemos o companheiro de luta, quanto possível

Abstenhamo-nos de maldizer onde não possamos louvar

Distanciemo-nos das ideias de vingança, quando o mal nos visite o coração

Busquemos a conciliação fraterna, ajudando, ainda mesmo de longe, àqueles que nos ofendem

Desculpemos quantas vezes se fizerem necessárias, cada dia, exercitando-nos para o verdadeiro perdão

Esqueçamos os velhos caprichos de nosso eu que, muitas vezes, nos prendem a escuras ilusões

Aprendamos com a vida para sermos mais úteis

Multipliquemos as bênçãos do serviço no campo das nossas horas, como quem sabe que o tempo é também um empréstimo inestimável da Providência Divina

E, assim procedendo, estejamos certos de que praticaremos a caridade com o próximo e conosco, de vez que, corrigindo em nós aquilo que nos aborrece nos outros, estaremos acompanhando Jesus em nosso esforço.

Prece de Cáritas

Convido todos aqueles que lerem o texto até aqui, a manifestar sua opinião. Utilizem o campo destinado a comentários abaixo do texto no Blog e acrescentem algo que queiram dizer. Vamos tentar fazer algo diferente e colocar experiências, opiniões, sensações, vivências, sugestões, ainda que divergentes.

Somos livres para fazê-lo, além do que temos o dever de tolerância e fraternidade, que deve partir antes de tudo de nossos corações, afinal, ambos são manifestações do amor-caridade, não são?

E aí, o que achou? Gostou? Curta, comente, compartilhe, participe e alimente seu cérebro com informações que se não tem uma aparente utilidade prática, tem muito de utilidade emocional. Te vejo na próxima!


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