
O Chamado das Sombras
Qual é o grande templo que você está construindo? Talvez seja uma carreira, uma família, uma reputação. Todos nós somos construtores, colocando pedra sobre pedra, dia após dia, na esperança de erguer algo que dure, algo que tenha significado. Mas e se, no meio do barulho das ferramentas e da poeira do canteiro de obras, descobríssemos que o templo mais importante não é aquele que se ergue para o céu, mas aquele que se aprofunda dentro de nós? E se o verdadeiro trabalho não for visível aos olhos, mas sentido na alma?
“O verdadeiro Templo é invisível, imaterial, e é construído dentro de cada homem. A fraternidade que o ergueu é mais sagrada que o próprio edifício.”
A Dança na Parede
É para dentro deste canteiro de obras sagrado que nos leva o saudoso Zé Rodrix em seu “Diário de um Construtor do Templo”. A história nos apresenta a Joab, um jovem fenício que, para escapar de uma trama mortal, se esconde entre a multidão de operários que erguem o lendário Templo de Salomão em Jerusalém. As sombras que dançam na parede desta caverna são épicas: uma construção monumental, um caldeirão de culturas — hebreus, egípcios, fenícios — e a descoberta de uma misteriosa fraternidade que une a todos, do mais humilde escravo ao sábio Rei Salomão e seu enigmático arquiteto, Hiram Abiff.
Joab, que buscava apenas um esconderijo, encontra um propósito. Ele, que queria apenas salvar a própria pele, se vê diante da oportunidade de salvar a própria alma. A aventura externa, cheia de perigos e intrigas, torna-se o reflexo de uma jornada muito mais profunda: a construção de si mesmo.
O Despertar do Prisioneiro
O despertar de Joab não acontece com o som de uma trombeta divina, mas no ritmo constante do martelo, no suor compartilhado com seus irmãos de ofício e na sabedoria silenciosa de seus mestres. O “Ponto de Virada” é sua iniciação nos segredos da construção, quando ele percebe que cada pedra lavrada, cada viga de cedro encaixada, é uma lição sobre si mesmo. Ele descobre que o verdadeiro segredo não está na argamassa, mas na união entre os homens.
“As pedras que carregamos diariamente — nossas tarefas, nossos desafios, nossas responsabilidades — estão sendo apenas empilhadas ao acaso, ou estão sendo cuidadosamente ajustadas na construção de um eu mais nobre?”
A Forma Pura que Zé Rodrix revela aqui é a da Fraternidade como Força Construtora. O livro nos mostra que nenhuma grande obra é erguida por um homem só. A verdadeira magia que ergue o Templo não é divina, mas humana: a capacidade de homens de diferentes origens, crenças e línguas se unirem em um propósito comum, tratando-se como irmãos. A construção do Templo de pedra torna-se a mais grandiosa metáfora para a construção do templo interior, da lapidação do caráter, da busca pela virtude.

E o reflexo em nós? A jornada de Joab nos obriga a olhar para o nosso próprio canteiro de obras. As pedras que carregamos diariamente — nossas tarefas, nossos desafios, nossas responsabilidades — estão sendo apenas empilhadas ao acaso, ou estão sendo cuidadosamente ajustadas na construção de um eu mais nobre? Estamos trabalhando sozinhos, em competição, ou descobrimos a força que existe em construir junto, em fraternidade com aqueles que nos cercam?
A Luz Ofuscante
Ao final da jornada, a luz que Joab encontra é ofuscante. Ele compreende que o Templo de Salomão, com todo o seu ouro e sua magnificência, é apenas uma sombra, um símbolo de algo muito maior. O verdadeiro Templo é invisível, imaterial, e é construído dentro de cada homem. A fraternidade que o ergueu é mais sagrada que o próprio edifício.
Essa percepção é transformadora, mas também dolorosa. Ela nos faz questionar o valor de todas as nossas construções externas. De que vale erguer um império de riqueza e poder se o nosso templo interior está em ruínas? A luz que o livro acende é a de que o trabalho mais importante da nossa vida é silencioso, anônimo e acontece no canteiro de obras da nossa própria consciência.
“De que vale erguer um império de riqueza e poder se o nosso templo interior está em ruínas?”
O Retorno à Caverna

Leia este livro. Deixe que a aventura de Joab o embriague, que os mistérios da construção o capturem. E então, quando terminar, retorne à sua própria vida com o olhar de um construtor iniciado. Olhe para o seu trabalho, para suas relações, para seus desafios diários, e pergunte a si mesmo: “Que templo eu estou, de fato, construindo?”
Pois a literatura não nos ensina a escapar da vida, mas a vivê-la com a sabedoria de quem já viu o que existe além das correntes. E o “Diário de um Construtor do Templo” nos ensina que cada um de nós tem uma pedra bruta para lapidar, e que a obra mais sagrada que podemos realizar é a construção de nós mesmos, em fraternidade com a humanidade.
“Porque cada página virada é um passo para fora da caverna.”
— Academia de Platão
Bibliografia Consultada
•RODRIX, Zé. Johaben: Diário de um Construtor do Templo (Trilogia do Templo – Vol. 1). Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.
•Blog do Consistório Nº 1. “Indicação de literatura (Johaben: Diário de um construtor do Templo)”. Disponível em: http://blogdoconsistorio1.blogspot.com/2013/10/johaben-diario-de-um-construtor-do-templo.html
•Skoob. “Diário de um Construtor do Templo – Resenhas e Avaliações”. Disponível em: https://www.skoob.com.br/diario-de-um-construtor-do-templo-2828ed3671.html
•MATTA, Luis Eduardo. Prefácio de Esquin de Floyrac: O fim do Templo (Trilogia do Templo – Vol. 3 ). Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
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